HELOÍSA ALBERTO TORRES

 


Heloísa Alberto Torres

Em defesa dos povos indígenas

 

Por William Mendonça

A antropóloga Heloísa Alberto Torres, que legou a Itaboraí o centro cultural e de memória que hoje recebe o seu nome, teve grande parte de sua vida acadêmica, como pesquisadora e também como gestora, envolvida com a causa indígena. Seus trabalhos mais conhecidos versam sobre questões da arte e cultura de tribos amazônicas e, especificamente, sobre a cerâmica marajoara.

No Museu Nacional, entidade que dirigiu entre 1937 e 1955, Heloísa garantiu lugar de destaque ao trabalho feito por expedições antropológicas, que reuniam tanto jovens antropólogos brasileiros, quanto nomes fundamentais da ciência no mundo, destaque para Claude Lévi-Strauss. O trabalho rendeu coleções de artefatos indígenas, fotos e filmes não apenas ao Museu Nacional, mas também a vários outros museus brasileiros.

De 1936 a 1968, Heloísa trabalhou ininterruptamente pela causa da preservação indígena. “Convidada para debates sobre a questão indígena, defendia o ponto de vista de que o Estado – aliado a entidades civis nacionais e internacionais – tinha como tarefa preservas as populações indígenas”, conta a pesquisadora Adelia Maria Miglievich Ribeiro.

Uma faceta pouco lembrada da vida de Heloísa foi sua atuação no Conselho Nacional de Proteção aos Índios e na fundação da FUNAI. Fundado e presidido pelo Marechal Cândido Rondon, o CNPI era o órgão formulador e consultivo da política indigenista brasileira. Esta política era executada por outro órgão, o Serviço de Proteção ao Índio, que muitas vezes agia em sentindo contrário à orientação do CNPI.

Heloísa Alberto Torres fazia parte como conselheira do CNPI desde a sua fundação. Em 1954, assumiu a vice-presidência do órgão e tornou-se a sua presidente com a aposentadoria de Rondon, em 1955. Trabalhou com gente como Darcy Ribeiro, Noel Nuteils, Orlando Villas-Bôas, Jorge Ferreira, e outros.

Em 1961, Heloísa foi uma das artífices da criação do Parque Nacional do Xingu, que permitiu a preservação de 16 etnias indígenas ameaçadas. Em 1963, usando recursos do Fundo Nacional Agropecuário, Heloísa iniciou um recenseamento nacional dos grupos indígenas. Em 1966, elaborou o Plano de Organização e Desenvolvimento de Comunidades Indígenas, que visava substituir a política indigenista brasileira.

Heloísa Alberto Torres lutou para manter uma política preservacionista, pela qual o indígena seria o protagonista de sua preservação, “em que não lhes será imposto nenhum sistema econômico estranho, mas através do qual procurar-se-á os indivíduos para a liderança e obter desses líderes que indiquem o que desejam fazer”, citando artigo da própria Heloísa, em 1968.

A antropóloga tentava frear o “espírito desenvolvimentista” que ameaçava comunidades indígenas com a ocupação desenfreada da Amazônia, o garimpo e a extração de madeira. Tanto o CNPI quanto o SPI foram extintos em dezembro de 1967, para darem lugar à FUNAI. Heloísa Alberto Torres permaneceu no novo órgão por um ano, até dezembro de 1968, quando se aposentou, aos 73 anos. Ocupou a Diretoria do Departamento de Estudos e Pesquisas da FUNAI, para finalizar o seu tão esperado recenseamento das populações indígenas.

Após a aposentadoria, Heloísa, juntamente com a irmã Maria Alberto Torres, dedicou os últimos anos de vida à preservação da memória de seu pai, o jurista e político Alberto Torres, e a Itaboraí.

(Texto do folder HELOÍSA ALBERTO TORRES e sua trajetória em defesa dos povos indígenas, produzido pela CCHAT)


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